A pintura gótica e seu característico estilo sombrio e emotivo

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A arte gótica remete a uma mudança na mentalidade do homem que se traduziu em obras de arte com significados diferentes e uma estética específica. A relação do homem com a religião mudava, o mundo se urbaniza, a burguesia ascendia. Mas a população dos séculos XIII ao XV, tempo em que durou esse emotivo período das expressões da arte, não sabia ler, e a pintura tinha a função de ensinar e catequizar seus observadores.

A transição do estilo românico para o gótico não possui fronteiras muito claras. E pode-se afirmar que a pintura gótica é retardatária em relação à arquitetura e à escultura gótica. Foram necessárias três década para que este estilo sombrio despertara na pintura. Os temas religiosos obviamente eram preponderantes, mas a pintura gótica é responsável por dar vida às pinturas profanas, em paredes das salas de casas dos senhores ou castelos ou ainda edifícios públicos. O estilo que precedeu o Renascentismo teve seu ponto de partida no norte da França, seguido pela Itália e alcançando toda a Europa, com grande repercussão na Alemanha e na Inglaterra.

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Características da pintura gótica

A pintura gótica começou na França do século XII e ganhou, até o final do século XV, diferentes estilos, à medida que avançava a influencia da arte gótica sobre o mundo europeu. O naturalismo é considerada a característica principal desta expressão artística, embora não alcance o ideal da perfeição na beleza como o Renascimento viria a fazer posteriormente e nem da arte grega ou romana que a precedeu. Na pintura gótica se valorizava: os detalhes, era uma pintura bastante descritiva; a natureza, que se associava a Deus; a iluminação, proliferando a pintura em vitrais e com fundos dourados.

A vida é a principal fonte de inspiração dos pintores góticos. Assim como a cultura burguesa exigia elegância às obras que decorariam suas paredes. Por isso a pintura gótica foi marcada por muito sentimento, detalhes narrativos, frescura, cor. Se comparado ao período anterior, a pintura gótica poderia ser classificada como muito menos sombria, ainda que não se possa afirmar o mesmo em sua arquitetura e escultura.

Técnicas de representação do estilo gótico

A pintura de estilo gótico se expressou inicialmente nas catedrais, como a catedral gótica de Notre Dame na França, um dos exemplos mais simbólicos da arte gótica. Mas, com o transcorrer da Idade Média, a representação de imagens sobre superfície ganha novas técnicas de expressão. Quatro principais técnicas são atribuídas à pintura gótica: murais, vitrais, madeira e miniaturas.

A pintura de murais já era tradicional desde o período anterior, a arte românica, e se voltava para a narração das histórias religiosas, presente principalmente nas igrejas do sul da Europa, com destaque para a Itália. A pintura em vitrais ganha espaço ao norte da Europa, especialmente na França, as cores e a luz eram destaque nessa técnica, contrastando com o lado sombrio e pesado da arquitetura gótica. A pintura em madeira também se aplicava a finalidades religiosas e ocupava espaço nos altares e capelas, essa técnica se extendeu por toda a Europa. Já as miniaturas, eram os desenhos aplicados aos manuscritos, seja nas delicadas letras ornamentadas com desenhos, arabescos, perspectivas e elementos humanos, era praticada principalmente em Paris, na França.

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Materiais utilizados na pintura gótica

A Idade Média viu florescer uma expressão artística que reconfigurou a história da arte até então vivida. A arquitetura gótica certamente foi a grande pioneira da arte gótica, produzindo um efeito em cadeia na escultura e na pintura. A escultura gótica juntamente com a pintura gótica complementavam esse conjunto expressivo do estilo gótico muitas vezes tomado exclusivamente sob a perspectiva da arquitetura.

E é interessante notar como a conjunção destas três formas de expressão artística se refletiu no emprego de novas técnicas e no domínio de novos materiais. No caso da pintura gótica, do século XII ao século XV foi notada a evolução do uso do óleo. Se destaca na pintura gótica o uso da técnica chamada têmpera que mistura pigmentos ou corantes a aglutinantes, que pode ser por exemplo ovo ou sua clara misturado a água. Essa tinta era aplicada em telas, em vitrais, em madeira, gesso e papel A diversidade de bases para a pintura gótica levou ao aperfeiçoamento e ao domínio da pintura à óleo, que resplandeceria com o Renascimento.

Evolução do estilo gótico na Europa

A história da arte aponta que na Europa da Idade Média, do século XII ao século XV, o estilo gótico prevaleceu e se desenvolveu em diferentes modalidades e expressões artísticas: a arquitetura gótica, representada especialmente pelas catedrais góticas, tão presentes em Paris, na França; a escultura gótica, emblemática e, muitas vezes, aterrorizadoras; e a pintura gótica, tema sobre o qual nos detivemos e vamos explorar um pouco mais.

A dispersão da pintura de estilo gótico na Eurpoa está delimitada por quatro principais correntes, com distintas características e processo evolutivo que levaria ao Renascimento a finais do século XV:

Franco-gótico ou gótico linear: século XIII, aparece associada à arquitetura gótica, precisamente nas catedrais góticas francesas, sua maior característica é a linha bem marcada que domina o volume. São representadas figuras planas, a perspectiva é leve, estão ausentes o jogos de luzes e sombra e de profundidade e espaços.

Gótico italiano: século XIV, principais centros eram Siena e Florência, na Itália. Se volta para a perspectiva, a profundidade e o realismo. Aparecem espaços tridimensionais, paisagens reais, o jogo de luz e sombra e o humano é menos estilizado, mas fiel a sua anatomia.

Gótico internacional: século XV, o domínio do realismo, destaque para as curvas, os arabescos, os ritmos ondulados que primam pela expressividade. Elegância, delicadeza, linhas fluidas e profusão de cores.

Gótico dos mestres flamencos: também no século XV, um grupo de artistas conhecidos como “primitivos flamencos” que viviam no que hoje seria a Holanda ou Países Baixos. Se afastaram do gótico internacional e criaram obras diferenciadas em que o realismo alcançou um nível nunca antes visto, o retratismo nos rostos, perspectiva aérea, reflexo da luz sobre os objetos e a profundidade admiráveis. A pintura dominava a técnica do óleo.